Teoria e história: uma relação tensionada

Autores/as

  • Marcia M. D'Alessio Universidade Federal de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.37467/gka-revhuman.v2.700

Palabras clave:

teoria, história, historiografia, singularidade, universalidade

Resumen

Existe uma tensão entre Teoria e História: “[...] a poesia é mais filosófica e de caráter mais elevado que a história, porque a poesia permanece no universal e a história estuda apenas o particular” (Aristóteles, 2007, 43). Esta afirmação de Aristóteles talvez tenha sido a primeira indicação da referida tensão entre as duas formas de conhecimento: a histórica e a teórica. Na citação acima, a filosofia é a referência de um pensamento hierarquicamente superior, sendo que sua legitimação enquanto tal passa pela universalidade de suas verdades. É importante salientar que a poesia nesta reflexão aristotélica é uma forma de conhecimento, embora difira da história no que concerne à matéria do conhecido: na primeira, o fato poderia ter acontecido; na segunda, aconteceu. Porque aconteceu, o fato é singular, e que poderia ter acontecido cai no âmbito do universal. Neste sentido, a chave para a compreensão da tensão entre história e teoria é a universalidade ou singularidade do conhecimento adquirido: “[...] é evidente que não compete ao poeta narrar exatamente o que aconteceu; mas sim o que poderia ter acontecido, o possível, segundo a verossimilhança ou a necessidade. O historiador e o poeta não se distinguem um do outro, pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso [...]. Diferem entre si porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido” (Aristóteles, 2007, 43). Ao situar a história em nível menos elevado que a poesia, Aristóteles parece ter suscitado em pensadores contemporâneos a ideia da distinção entre conhecimento histórico e conhecimento teórico. O presente estudo versa sobre a natureza do conhecimento histórico e seus impasses metodológicos no uso dos referenciais teóricos necessários às suas indagações fundamentais.

Biografía del autor/a

Marcia M. D'Alessio, Universidade Federal de São Paulo

É graduada em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1970, e doutora em Histoire Du Monde Ouvrier Contemporains pela Universidade de Paris I - Pantheon - Sorbonne, em 1980. Foi orientada por Pierre Vilar, tendo defendido tese sobre o período Vargas: “problématique nationale et populisme dans le Brésil de Getúlio Vargas”. Defendeu a Livre-Docência em novembro de 2011 na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foi coordenadora da pós-graduação e professora assistente doutor na PUC-SP. Assumiu cargos em várias gestões da Associação Nacional de História (ANPUH) / Seccional SP, inclusive a presidência, no período entre 2006 e 2008. Atualmente é professora adjunta do curso de História da UNIFESP - Campus Guarulhos. Tem experiência na área de História, com ênfase em Teoria da História e Historiografia e em História contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: história, historiografia, memória, identidade, cultura, nação, nacionalidade e Estado Nacional.

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Publicado

2013-03-05

Cómo citar

D’Alessio, M. M. (2013). Teoria e história: uma relação tensionada. HUMAN REVIEW. International Humanities Review / Revista Internacional De Humanidades, 2(1). https://doi.org/10.37467/gka-revhuman.v2.700

Número

Sección

Artículos de investigación